domingo, 20 de março de 2011

A Fraqueza em sua essência

Olá súditos de Caíssa,

Trago desta vez, uma posição que mostra como um bando pode tirar proveito de uma debilidade na cadeia de peões( usando o tema do peão dobrado ), nos dois últimos artigos mostrei que nem sempre peão dobrado constitui fraqueza, desta vez...
bom vamos a teoria!

Botvinnik – Reshevsky – World Championship tournament, 1948

Esta posição aparentemente parece boa para as brancas, pois tem melhor desenvolvimento, par de pispos e mais espaço, mas a verdade é que o jogo preto é preferível! A razão é que elas não possuem fraquezas em seu território e estão muito bem colocadas para defender seu flanco do rei, mas o maior trunfo preto reside no fraquíssimo peão de c4( facilmente atacado por ... Na5  e ... Ba6 ). Um peão que as brancas terão muita dificuldade em defender.
1... Na5 embora estejam atrazadas no desenvolvimento, as pretas movem uma peça já desenvolvida! Por mais estranho que possa parecer, o lance tem fundamento. As pretas possuem duas preocupações. A) atacar o peão de c4 B) defender seu flanco do rei, o lance escolhido inicia o caminho ao primeiro problema. Em contraste, um lance de desenvolvimento como 1... Bd7? Não tem nada haver com a posição – Não ataca o peão de c4 nem ajuda na defesa do flanco do rei.
2.Ng3 Ba6 3.Qe2 Qd7! Um lindo lance de duplo propósito. Agora  a dama pode ir a a4 e acrescer pressão sobre o peão de c4. o outro ponto do Qd7 é que agora as pretas podem fazer ... f7-f5. Este movimento sufoca as intenções das brancas de usar a agressiva diagonal b1-h7. 4.f4 f5 O bando preto não toma pressa em tomar o peão de c4, viu que se primeiro conseguisse formar uma barreira intransponível em torno de seu rei, então depois ganharia o peão, sem arriscar infelizes desastres naquele flanco. 5.Rae1 as pretas só aumentariam a pressão sobre c4, caso fosse jogado: 5.d5 g6! 6.dxe6 Qxe6 7.fxe5 gxf5. 5... g6! Aqui temos uma interessante batalha entre idéias. A Branca está atacando o flanco do rei, as pretas o flanco da dama. Felizmente para as pretas, seu alvo está feito e é permanente (peões fracos em a3, c3 e c4). Já para as brancas, seu plano não passa de um pensamento desejoso. Não possui alvos claros para o ataque, encontra-se em estado de desespero! Se não conseguir nada no flanco do rei, perecerá na outra ala. Então as pretas têm que lutar pelo equilíbrio no flanco do rei para eventualmente vencer a partida. 6.Rd1 Qf7 7.e5 Rc8 então após 8.exd6 Nxd6 o peão de c5 terá defesa! 8.Rfe1 dxe5! 9.dxe5 Ng7  agora a ala do rei está sólida como uma rocha. 10.Nf1 Rfd8 Rechevsky mostra grande paciência, seu último lance termina com qualquer fantasia das brancas de jogar pela coluna “d” 11.Bf2 Nh5! 12.Bg3 e não 12.g3 que levaria a derrota ao longo da grande diagonal após 12... Qe8 seguido por Qc6 e Bb7. 12... Qe8 13.Ne3 Qa4 as brancas ficaram sem perspectivas, assim que as pretas iniciaram seu ataque a ala da dama, eventualmente venceram!

a meu ver Jeremy Silmam em sua obra "How to reaccess your chess", escolheu muito bem as partidas para demonstrar os temas propostos, é um excelente livro e aconselho sua leitura!

terça-feira, 8 de março de 2011

Peões dobrados x Desenvolvimento

Olá amigos, trago a vocês mais um exemplo de peões dobrados,  na qual a correta análise da posição permitiu  que o primeiro jogador deixasse sua cadeia de peões ficar debilitada, em vista de outras considerações de maior importância...

Fischer – Euwe, Leipzig Olympiad 1960. 1.e4 c4 2.d4 d5 3.exd5 cxd5 4.c4 Nf6 5.Nc3 Nc6 6.Nf3 Bg4 7.cxd5 Nxd5 8.Qb3! As brancas não se importam com o fato das pretas dobrarem e isolarem os peões da ala do rei, esperam conseguir um desenvovimento melhor e com isso compensar a sua débil estrutura de peões( um caso comum onde o desequilibrio favorável das pretas {estrutura de peões}, briga com o das brancas{iniciativa baseada no desenvolvimento} ). Nunca se permita acreditar que um desequilibrio sempre vai bater outro! São TODOS iguais em valor e somente se diferenciam tomando considerações especiais em relação a outros fatores de uma posição. 8.Bxf3 9.gxf3 e6 10.Qxb7 Nxd4 11.Bb5+ Nxb5 12.Qc6+ Ke7 13.Qxb5 Nxc3?! Um erro que permite as brancas ficar a frente no desenvolvimento! Tomando proporções ameaçadoras, hoje se conhece pela teoria que após 13... Qd7! 14.Nxd5+ Qxd5 15.Qxd5 exd5 leva a um final onde o peão isolado das pretas de “d” é mais fraco que os peões dobrados simplesmente porque o peão de d está situado numa coluna aberta( um peão so é fraco se o adversário puder atacá-lo, entretanto esta vantagem é minima e o empate é o resultado comum. ) 14.bxc3 Qd7 15.Rb1!

Fischer comenta este lance dizendo: “Olhando profundamente na posição eu ví que, por mais horrível que seja a estrutura de peões das brancas, as pretas não conseguem explorar isto porque elas não conseguem desenvolver normalmente seu flanco do rei”. 15... Rd8? Melhor era 15... Qxb5 16.Rxb5 Rd7 18.Ke2 Aqui fischer termina seu pensamento na qual deveria manter uma clara vantagem após 17.Rb7 f6 18.Ke2 Kc6 19.Rf7 a5 20.Be3. 16.Be3 Qxb5 17.Rxb5 Rd7 18.Ke2 As brancas sentem que podem ganhar o peão de aa qualquer hora que quiserem, então se apressam em colocar sua outra torre no jogo. 18... f6 19.Rd1! tirando de jogo a única peça preta que estava ativa. 19... Rxd1 20.Kxd1 Kd7 21.Rb8! as peças pretas ganhariam alguma liberdade após 21.Bxa7 Bd6 22.Rb7+ Kc6 23.Rxg7 Bxh2. 21... Kc6 tratando de interromper a ameaça Bc5. 22.Bxa7 g5 23.a4 Bg7 24.Rb6+ Kd5 25.Rb7 e as brancas conseguirão vencer o final.

vejam que ainda na abertura Fischer viu que seu desenvolvimento era mais importante que a estrutura de peões, mais adiante será postado temas de desenvolvimento em específico, este exemplo serve meramente para provar que nem sempre a posição débil da cadeia de peões levará a derrota!

Um abraço a todos e até a próxima!